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  • Foto do escritorMayrah Luiza

Amantikir

Atualizado: 12 de set. de 2022


HQ conta lenda sobre a criação da Serra da Mantiqueira

Foto: Divulgação Editora Trem Fantasma

Nota das Cartunadas: este texto, diferente de todos de nosso site, não possui transcrição em áudio por problemas técnicos que estamos enfrentando. Assim que isso tudo passar, iremos incluir a versão em áudio, tudo bem?


Título: Amantikir

Autores: Jefferson Costa e Lillo Parra

Editora: Trem Fantasma

Número de páginas: 72

Ano de publicação: 2021



Amantikir é um quadrinho nacional que aborda — de forma adaptada — o mito Tupi sobre a criação da Serra da Mantiqueira, localizada nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, e considerada uma das mais importantes biodiversidades do planeta.

No mito Amantikir, mohn-thy-kyiri ou Serra que Chora, Kurasi (Sol) se apaixona por Kunhã, uma jovem indígena. Todos os dias, Kurasi descia do céu para ficar junto de sua amada, o que deixava Iasi (deusa-Lua) cabisbaixa. Mas ela não era a única a se entristecer com o amor de Kurasi e Kunhã.

Conforme Kurasi descia do céu e passava mais tempo com Kunhã, os dias ficavam mais longos e as noites mais curtas. Isso fez com que a vegetação perdesse vida, pois o calor do Sol era tão forte que os rios secaram e o pasto foi queimado, fazendo com que o casal tivesse o seu fim. Kunhã, triste com a ruptura do romance, se debulhou em lágrimas, que hoje formam os rios que nascem na Serra da Mantiqueira (ou Serra que Chora, daí o nome).


O mito, claro, é mais longo e mais detalhado do que estes três parágrafos, mas é importante apresentar a história de Amantikir para que a resenha seja, de fato, enriquecedora para quem a lê. Da mesma forma que aqui eu apresento o mito, quem nos conta a lenda dentro do quadrinho é o encontro entre Mariá, criança indígena, perdida na Serra da Mantiqueira, e uma velha senhora, também indígena, repleta de saberes ancestrais.

A HQ não possui capítulos delimitados, narrando, assim, a história da Serra que Chora através de um diálogo fluido e belas ilustrações. Uma leitura rápida, mas que exige atenção em relação aos termos utilizados. A comunicação entre os personagens também é feita através do vocabulário Nheengatu, língua indígena desenvolvida a partir do Tupinambá e falada ao longo de todo o vale amazônico brasileiro.


Um aspecto muito positivo de Amantikir é o cuidado para que seja garantida a compreensão e apresentação da língua aos leitores. No final do livro, há dois glossários, um com os significados das palavras e outro com os dos animais. Outra característica muito interessante da obra é a forma com que as as ilustrações transcendem as margens dos quadrinhos, proporcionando uma sensação de imersão para quem a consome.

Amantikir vaga entre o atual e o ancestral, nos levando a viajar pela lenda indígena através das ilustrações de cores atraentes aos olhos e nos fazendo voltar para a realidade e lidar com problemáticas que afetam diretamente os povos originários, como o desmatamento da Floresta Amazônica e a demarcação de terras. Tudo isso com uma transição muito bem pensada pelos quadrinistas Jefferson Costa e Lillo Parra.


Por fim, a adaptação da lenda da Serra que Chora é de suma importância, porque contribui para que a voz dos povos originários e sua ancestralidade não sejam apagadas e alcancem novos públicos. Amantikir é uma homenagem necessária, excepcional e, sobretudo, respeitosa, pois parte, conscientemente, da visão dos autores enquanto dois homens não-indígenas, e mesmo assim, não confunde os locais de fala. Leitura recomendada para entender o Brasil que hoje vivemos.


Nota: 5/5


Veja mais detalhes da HQ "Amantikir":



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