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  • Foto do escritorInara Chagas

DOPE - Nem sempre o vilão é o culpado da história


Quadrinho traz a história de Gabriela, mulher negra que, durante a pandemia, viu no mundo do crime sua esperança para sobreviver


Fotografia que mostra uma mão negra segurando um quadrinho. Ele é azul. Sua capa diz "DOPE: Edson Bortolotte" e mostra uma mulher negra fumando e segurando um revólver. Seus olhos são verdes e seus cabelos são médios, lisos e loiros. Ao fundo do quadrinho, há uma parede amarela e um nicho preto com livros.
Foto: Inara Chagas

Nota das Cartunadas: este texto, diferente da maioria do nosso site, não possui transcrição em áudio por problemas técnicos que estamos enfrentando. Assim que isso tudo passar, iremos incluir a versão em áudio, tudo bem?


Título: DOPE

Autores: Edson Bortolotte

Editora: Publicação independente

Número de páginas: 32

Ano de publicação: 2022


“Mas quem se importa que fui a primeira mulher da minha família a se formar em uma faculdade? Quem se importa que eu era uma ótima professora e, que em todas as escolas que trabalhei, sempre me destaquei e fui muito querida pelos meus alunos? Quem se importa? Provavelmente, você não! Você quer conhecer a mulher violenta, que apareceu no jornal em horário nobre, que destruiu lares e é procurada pela polícia… Quer saber sobre uma traficante, que matou um filho de uma puta, desgraçado, que vocês chamam de vítima… Vocês querem uma vilã! Um motivo para justificar seus preconceitos....”


Responder a pergunta “De onde surgem os vilões?” tem sido um exercício nos últimos anos no meio nerd. Quadrinhos, séries e filmes de anti-heróis e vilões aclamados são um sucesso de vendas, bilheterias e com a própria audiência. DOPE, de Edson Bortolotte, também se dedica a contar a história de uma personagem que, em um primeiro momento, é lida como vilã. Porém, como não ser uma vilã em uma sociedade que nunca te humanizou?


DOPE conta a história de Gabriela, uma mulher negra, professora de Filosofia/Sociologia e, nas horas vagas, trabalha no bar de seu primo. Assim como muitos de nós, a protagonista precisa de mais de um trabalho para pagar as contas. Até aí tudo bem.


Até uma grande praga chegar.

E, junto dela (ou dele), o vírus.


A pandemia da covid-19, junto da inação por parte do governo federal em conter o vírus e imunizar os brasileiros, fez com que a vida de muitas pessoas fosse de mal a pior. “Quem não estava morrendo pelo vírus, estava sofrendo pela negligência do governo…”. Gabriela, sem emprego, sem amigos e sem família, se viu cercada. O que fazer para não morrer?


Entrar para o mundo do crime.


A história de DOPE me cativa justamente por sua simplicidade. Quem de nós não viu a vida mudar após esse vírus maldito e este último desgoverno? Quem aqui não precisou recorrer ao Auxílio Emergencial e ter uma jornada dupla ou tripla para comer? Bom, eu precisei. E, assim como a Gabriela, também sou uma mulher negra.


Mas vou além: quem de nós não conhece alguém que entrou para o mundo do crime, independente do motivo? Quantos jovens negros ainda visualizam essa vida como a única realidade possível? Como culpá-los quando não há projeto de país para essa juventude? Essas são algumas das reflexões que tive com esta leitura.


Aliás, falando sobre minha experiência com a HQ de Edson Bortolotte, preciso elogiar a fluidez dos diálogos da obra. A escolha por palavras e expressões do cotidiano dá realismo ao quadrinho, além de criar uma imersão para quem lê. Além disso, me agrada muito histórias sem muitas passagens de tempo, mas isso é porque meu cérebro se confunde — distrai, mas enfim — com facilidade.


DOPE é um daqueles quadrinhos que, quanto mais se lê, mais questionamentos surgem. Como é a relação de Gabriela com sua família? Qual foi a sua condenação — aliás, ela existiu, de fato? Como ela foi parar na televisão? Para você que, assim como eu, é uma pessoa muito curiosa, recomendo a leitura em grupo de DOPE, para que o sofrimento seja compartilhado. Sim, dá muita vontade de seguir lendo essa história.


De pontos negativos, preciso falar da ausência da numeração de páginas no quadrinho. Claro, é um quadrinho cuja leitura pode ser feita em quinze minutos e, portanto, é difícil se perder, mas ainda considero importante certo rigor. Além disso, ainda na parte de edição, faltou um melhor aproveitamento das páginas. Em alguns momentos, há espaços em branco que poderiam ser utilizados para valorizar o traço do autor ou mesmo inserir novos elementos no enredo de DOPE. Cada espaço em um papel em branco é ouro.


Gabriela nos ensina muita coisa ao longo de DOPE, nada fora do comum para professoras, mas fora do que se é esperado para uma mulher negra neste país. Que sejamos resistência e estejamos sempre do lado certo da história, mesmo que isso signifique apoiar o vilão.


Nota: 4,5/5


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