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Helô D'Angelo: quadrinhos também são política

Atualizado: 30 de ago. de 2021


Helô utiliza da sátira para pautar temas sociais e políticos em seus quadrinhos

Fotografia de Helô D'Angelo. Helô é uma mulher de pele clara e cabelos castanho escuros, ondulados e médios. Ela está levemente inclinada para a esquerda. Ela usa óculos arredondados e sorri. Veste uma blusa listrada em preto e branco
Helo D'Angelo é chargista no Brasil de fato e capista no podcast Mamilos | Foto: Divulgação Helo D'Angelo

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Qual é a sua história com quadrinhos e ilustrações? Por que decidiu seguir essa área?

Eu sou formada em jornalismo na verdade, mas desenho desde sempre, e na verdade eu sempre quis trabalhar com quadrinhos, ilustração, mas eu era muito insegura achava que não ia conseguir viver disso. Tinha medo de morrer de fome esse tipo de coisa e também não conhecia ninguém que trabalhava na área. O máximo que eu conhecia era o Mauricio de Sousa, e era muito distante.


Eu fui para o jornalismo pensando “Eu gosto de ler, eu gosto de escrever, eu gosto de ouvir as pessoas contarem histórias!”. Então, eu fui pensando em estudar Comunicação. Quando eu cheguei no jornalismo, vi que eu gostava daquilo, mas não era exatamente o que eu queria fazer. Eu queria desenhar, na verdade. Então, na faculdade, eu comecei a pesquisar formas de conseguir desenhar, não só ilustração que já conhecia, mas entrar em contato com o jornalismo em quadrinhos.


Na Cásper Líbero [faculdade localizada em São Paulo capital] tinha uma biblioteca bem interessante de quadrinhos, eu entrei em contato com isso e comecei a fazer vários trabalhos em quadrinhos, o máximo que eu podia. Fiz o meu TCC também em quadrinhos, é uma reportagem sobre aborto, bem interessante. A partir daí eu demorei um tempo para começar a trabalhar com isso. Saí da faculdade e comecei a trabalhar com jornalismo literário. Não tinha muito a ver, mas fui percebendo que o que eu queria fazer mesmo era trabalhar com quadrinhos.


Fui me encaminhando cada vez mais para isso, fazendo alguns freelas. Acabei saindo do trabalho que eu estava e criei minha página, mais para voltar a desenhar porque eu estava com um bloqueio criativo depois do TCC, e a página começou organicamente a ter bastante seguidores. Voltei a fazer mais quadrinhos, e quando vi já estava ilustrando e fazendo freela de jornalismo em quadrinhos. Foi bem orgânico. Não que eu não tenha me esforçado pra caramba, e que os meus privilégios não contem, lógico que contam, mas foi um um caminho, não quero dizer natural porque se eu disser natural parece que eu ganhei tudo de mão beijada. Foi um caminho que fui seguindo aos poucos, não tracei e disse "ah vou conseguir”, fui experimentando aos pouquinhos sabe?! Decidi seguir na área porque eu gosto muito, sempre foi o que eu quis fazer!


Você já havia participado de edições da POC CON, certo? O que você achou do evento e das oportunidades que ele proporciona?

Sim, eu participei da primeira POC CON em 2019 e achei o melhor evento de quadrinhos que já participei contando com a COMIC CON. Porque foi muito bem organizado, muito respeitoso e divertido, o público era muito legal as músicas, tudo!


Senti uma coisa que eu não sinto muito em alguns outros eventos de quadrinhos, as pessoas virem na minha mesa para conhecer o meu trabalho, paravam para perguntar sobre os quadrinhos que eu estava vendendo, trocar ideia, perguntar sobre as artes e pedindo para seguir nas redes sociais. Eu não sei se foi coincidência, mas senti que um público muito curioso estava na POC CON. A única coisa que eu acho que eles poderiam melhorar, e que eu acho que eles vão melhorar nas próximas, já senti uma melhora na Pocket POC CON, é que eles subestimaram o público, acharam que iam ter muito menos público e usaram um lugar pequeno. Só que na verdade ficou uma fila imensa, o que mostra que tem demanda e público para isso, mostra para os organizadores que eles podem apostar em lugares maiores também. Eu lembro que ficava triste das pessoas terem que ficar na fila esperando para entrar no evento, mas ao mesmo tempo muito feliz porque as pessoas estavam esperando muito felizes para entrar no evento que tinha representatividade para elas, que era um lugar onde elas realmente seriam aceitas e respeitadas. Além da organização ser incrível e desta questão do público ser muito legal, tinha muito amor envolvido no evento.


São poucas as vezes que podemos ir a um evento e ficarmos tranquilas de não sermos agredidas por ser mulher, bissexual. As minhas amigas trans também, os meus amigos trans, as pessoas não binárias, todo mundo bem tranquilo ali porque era nosso espaço, sabe?! Foi uma experiência incrível, fiquei muito triste que com a pandemia acabou levando muito mais para frente o evento, mas também teve a POC CON em casa que eu participei em um dos bate-papos, foi bem legal, um bate-papo bem livre sobre humor, mas claro não é a mesma coisa de participar ao vivo.


Durante a mesa você falou que seu processo de produção passou por mudanças por conta da pandemia . Me conta, como era a Helô produzindo antes e como é hoje?

Eu passei por várias mudanças porque minha energia foi caindo um pouco ao longo da pandemia, então comecei a desenhar muito, muito mesmo. Estava bem ansiosa, com muita raiva, muito frustrada, então eu precisava produzir muito, sabe?! Acordava, sentava e já desenhava. Isso durou alguns meses e foi bom para mim, ter colocado isso para fora até que comecei a HQ Isolamento que é o quadrinho que estou lançando esse ano como livro.


Aos poucos eu fui me cansando, e isso foi me dando vários outros problemas, dores no corpo, insônia, a minha ansiedade estava muito, muito grande. Tive momentos bem difíceis, por isso, comecei a trabalhar de outra forma, colocar horário no meu trabalho, tentar me respeitar e sair para caminhar. Eu não estou saindo agora porque tá super frio aqui, mas enfim, tento sair para caminhar e tomar solzinho. Me alimentar melhor, alongar, antes eu tava produzindo muito sem parar, mas com a ansiedade eu estou tentando me respeitar um pouco mais.


Acho que todo mundo tá cansado, eu estou bem cansada, acho difícil manter um ritmo de vida e trabalho como se não houvesse 500 mil mortos no país. Então eu tenho trabalhado um pouco assim, sabe?! Tentando não me cobrar tanto, é difícil porque eu me cobro muito quase sempre, mas estou tentando.


Você é uma escritora, quadrinista e ilustradora conhecida principalmente nas redes, e vem crescendo cada vez mais. Você e a Cecília comentaram sobre como o público associa o sucesso de vocês a escritores/quadrinistas masculinos, as confundindo com homens. Como você se sente e lida com este tipo de situação?

Eu acho engraçado, na verdade. Mostra que as pessoas gostam do meu trabalho, mas tem um machismo aí, porque quando uma coisa boa você já assume que é um homem. Então quando as pessoas gostam de um trabalho e vem elogiar como um homem, eu sempre faço questão de falar que eu sou mulher, mas eu acho engraçado e dou risada. Quando as pessoas vem me xingar achando que eu sou homem, também falo que sou mulher e faço alguma piadinha, tipo “ah eu sei que isso é coisa de homem, mas eu estou falando isso mesmo!”, “Eu sei que falar de política é coisa de homem, mas eu vou continuar afirmando!”. Eu tento não me estressar com isso, porque já estou com a energia tão baixa, não vou ficar "tretando". Na verdade, raramente vejo os comentários hoje em dia, porque lá só tem o chorume mesmo.



Trabalhos de Helô D'Angelo



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