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  • Foto do escritorLeonardo Rodrigues

“O Dia de Julio”: a história de um século em uma vida


Gilbert Hernandez a história do século XX a partir da vida de um homem, que nasce e morre com o século


Fotografia do quadrinho "O Dia de Julio" em frente a uma prateleira de livros. A capa do quadrinho mostra uma silhueta masculina de perfil, com os braços para trás e com um chapéu. O fundo é preto, com detalhes em branco. Em cima, nuvens azuis.
Foto: Leonardo Rodrigues

Nota das Cartunadas: este texto, diferente da maioria do nosso site, não possui transcrição em áudio por problemas técnicos que estamos enfrentando. Assim que isso tudo passar, iremos incluir a versão em áudio, tudo bem?


Título: O Dia de Julio

Autores: Gilbert Hernandez

Editora: Nemo

Número de páginas: 112

Ano de publicação: 2016


A vida de um homem e sua família se confundem com a história do século XX em “O Dia de Julio”, quadrinho do estadunidense Gilbert Hernandez. Como se toda a história se passasse em um único dia, nos é apresentada uma narrativa circular que traz em cem páginas os cem anos vividos por um homem, desde o nascimento até a sua morte.


No ano de 1900 nasce Julio, filho de uma família de imigrantes latinos que vive em uma cidade rural nos Estados Unidos. Enquanto cresce, Julio, a família e suas amizades enfrentam a imprevisibilidade da vida: dificuldades da pobreza, a fúria da natureza com chuvas e deslizamentos de terra, as doenças, as guerras e o próprio passar do tempo. São muitas as pessoas que morrem, mas também são muitos os nascimentos, como os de sobrinhos e sobrinhos-netos que recebem também o nome de Julio.


Para além das mudanças da família, o mundo enfrenta diversos eventos transformadores no século XX — como a Grande Depressão em 1929, nos Estados Unidos, a crescente industrialização, a eclosão do movimento hippie e a popularização das boates nos anos 1990. Mas são as várias guerras realizadas no século que influenciam de forma mais direta a vida dos personagens na história, seja para os homens que se alistaram ou para as famílias que choravam as perdas. São citados no quadrinho as duas Grandes Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945), as Guerras da Coreia (1950-1953), do Vietnã (1955-1975) e do Golfo (1991). A menção destes acontecimento permite uma localização temporal dos eventos do quadrinho, que avança com uma sucessão de saltos temporais e uma recorrente dúvida entre o que é real e onírico.


O protagonista Julio segue vivendo praticamente em paralelo a estes grandes eventos. Ele nunca se casou, e morou até o fim de seus dias com a mãe. A sua sexualidade é ambígua ao longo de toda a história, ficando subentendida durante a leitura. Sua relação com Tommy, um vizinho e amigo desde a infância, também era questionada por sua mãe- que rezava para que o filho “encontrasse seu caminho”. Mas é durante um diálogo entre ele e o sobrinho-neto, Julio Juan, assumidamente gay, que se entende melhor o tabu vivido por Julio em seus cem anos de vida e de solidão.


O autor, Gilbert Hernandez, é um dos responsáveis pela revista Love and Rockets”, importante publicação underground de quadrinhos estadunidenses, sobretudo durante a década de 1980. A revista foi criada por Gilbert e seus irmãos, Mario e Jairo Hernandez, e nela publicam seus quadrinhos. Alguns trabalhos publicados na revista, como “Sopa de Lágrimas”, “Além de Palomar” e “Diastrofismo Humano”, já saíram no Brasil. “O Dia de Julio” foi também originalmente serializado na publicação em 2013 e lançado no Brasil pela Editora Nemo em 2019.


Após a leitura de O Dia de Julio”, é difícil não se lembrar de “Cem Anos de Solidão”, obra prima de Gabriel Garcia Márquez e da literatura latino-americana. O livro apresenta a história de uma família sendo narrada pela sucessão de gerações e utiliza da repetição de personagens com os mesmos nomes dentro da mesma família.


São muitos os pontos da história que parecem ficar subentendidos na narrativa de Gilbert Hernandez, que não utiliza recordatórios no trabalho. Junto disso, o fluxo de tempo e o modo como os eventos se sucedem faz com que não se queira interromper a leitura até que seja concluída. Um grande quadrinho que reforça a habilidade narrativa do artista.


Nota: 4/5


 

Este conteúdo foi produzido por Leonardo Rodrigues, colaborador voluntário das Cartunadas. Quer ter seu conteúdo publicado em nossas plataformas? Entre em contato com a gente por meio das nossas redes sociais ou por cartunadas@gmail.com!

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