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POC CON em Casa: conheça a feira LGBTQIA+

Atualizado: 2 de ago. de 2021


Evento reforça a importância de se falar sobre minorias dentro do universo nerd


O pôster oficial da POC CON 2021 foi ilustrado por Verônica Berta | Foto: Divulgação Poc Con

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Quem acredita que existem poucos quadrinistas LGBTQIA+ no Brasil certamente não conhece a POC CON, feira LGBTQIA+ de quadrinhos e artes gráficas. O evento, que acontece desde 2019, é um sucesso entre a comunidade nerd e LGBTQIA+, que possui questões e pautas nem sempre atendidas no mundo dos quadrinhos.

Eventos direcionados a minorias sociais, como a POC CON, são conquistas para populações que nem sempre se veem representadas em mídias de massa, que ainda sofrem pela falta de acesso a políticas públicas e cuja expectativa de vida é reduzida no Brasil.


Desde 2020, em razão da pandemia de covid-19, o evento precisou ser feito de forma totalmente on-line, tornando-se, assim, a POC CON em Casa. Em 2021, reunindo mais de 20 artistas LGBTQIA+ somente nas mesas de discussão, a feira, totalmente gratuita, trouxe questões sobre a criação de personagens, financiamento coletivo e até mesmo oficinas de pintura e storyboard.


O que é a POC CON?

A primeira edição da POC CON aconteceu em junho de 2019, em São Paulo capital. O evento reuniu 73 artistas expositores e um público de três mil pessoas, tendo destaque, inclusive, em programas como SP TV e Globo News.


Artistas expositores da primeira edição da POC CON em 2019 | Foto: Divulgação Poc Con

Desde a sua primeira edição a feira ocorre em datas próximas à parada do orgulho LGBTQIA+. Com o isolamento social, tanto a parada, como a POC CON se adaptaram para seguirem no mês de junho e próximas ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (28 de junho).


Organizada pela dupla de artistas Mário César (Bendita Cura) e Rafael Bastos (Pornolhices), a feira tem o objetivo de dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ brasileira e produtora de artes gráficas. Em um cenário onde o debate sobre pluralidade, diversidade e inclusão se expande, cada vez mais artistas LGBTQIA+ estão decidindo expor seus trabalhos e “trazendo novas cores à nona arte brasileira”, como a própria POC CON informa.


Quem são os artistas da edição de 2021?

A 2º edição da POC CON em Casa foi dividida em dois dias e estruturada em mesas e oficinas, abordando temáticas como a criação de personagens redondos, quadrinhos de sátira e humor, representatividade em RPGs de mesa e similares. Ao todo, foram cerca de 30 artistas participantes.


Dando início ao primeiro dia de evento, a mesa “Financiamento Coletivo”, contou com a participação de Ilustralu (Arlindo), Renata Nolasco (Lapso) e Leo Himura (Love, Love, Love), com mediação da desenhista, roteirista e quadrinista, Germana Viana (Gibi de Menininha). Dentre os assuntos abordados, foram mencionados os principais erros, acertos, experiências e dicas para um bom financiamento coletivo.


Geração de conteúdo autoral também foi pauta do primeiro dia de evento. Flávia Borges (Maré Alta), Cecília Marins (Três Estações) e Vítor Martins (Quinze Dias) falaram um pouco sobre a dificuldade de dividir vida pessoal e trabalho, principalmente com o avanço das redes sociais e a necessidade de criar conteúdo para plataformas como o Instagram.

A mesa Geração de "Conteúdo e Produção Autoral" foi transmitida através do canal oficial | Imagem: YouTube Poc Con

Flávia Borges comenta que seu trabalho surgiu justamente por já ser ativa nas redes sociais e publicar seus trabalhos. Seu primeiro quadrinho, Maré Alta, foi responsável por dar o pontapé inicial em sua carreira de quadrinista, ilustradora e roteirista. “Já era algo que eu estava divulgando antes de ter o projeto do quadrinho. Eu já tinha um certo trabalho de ilustração, de tirinhas, de postar na internet, antes do lançamento do quadrinho, o que me possibilitou ter um público nos eventos que eu participava”, conta a artista.


No segundo e último dia de evento, o destaque foi para a mesa “O humor em tempos de cólera”, que tratou das vivências e mudanças no processo criativo durante a pandemia de covid-19. A mesa foi composta pelas quadrinistas e ilustradoras Helô D’Angelo (Isolamento), Motoka (Motocomix), Cartumante (Memes São a Salvação) e Lila Cruz (Almanaque de Autocuidado) com a mediação da quadrinista e jornalista Carol Ito (Novo Anormal, revista TPM).



Helô D’Angelo conta que desenha desde sempre e que sua vontade de trabalhar com quadrinhos também é de longa data, porém, a artista era muito insegura em relação a viver da ilustração.

“Tinha medo de morrer de fome, esse tipo de coisa, né?! E também porque eu não conhecia ninguém que trabalhava na área, o máximo que eu conheci era, tipo, Mauricio de Sousa. Era muito distante”.

Após seu Trabalho de Conclusão de Curso — uma reportagem em quadrinhos sobre aborto — a também jornalista começou a fazer quadrinhos e publicá-los em seu Instagram, com o intuito de voltar a desenhar e desfazer o bloqueio criativo pós TCC. “A página começou, organicamente, a ter bastante seguidores e eu voltei a fazer mais quadrinhos, e quando vi, eu estava ilustrando, fazendo freela de jornalismo em quadrinhos”.


A estudante de arquitetura Laura Mazzottini, que acompanhou pela primeira vez a POC CON, conta que achou as temáticas muito interessantes e que foi a mesa “Geração de Conteúdo e Produção Autoral” que a convenceu a acompanhar o evento. A participante afirma a importância da criação de narrativas com personagens LGBTQIA+, mas frisa a necessidade de repensar a forma com que são apresentados. “Ser LGBTQIA+ não pode ser uma característica principal, não é um traço de personalidade. É o que a pessoa é, mas ela é outras coisas também, pode ser uma pessoa engraçada, criativa”.


Quadrinhos LGBTQIA+?

Por mais que quadrinhos não tenham gênero, orientação ou identidades padrão, é fato que a maioria das histórias contadas foi centrada em personagens hetero-cis-normativos ou mesmo feita por pessoas que se encaixam neste padrão. Um bom exemplo de como narrativas não normativas foram excluídas das HQs foi o selo “Code Authority”, que censurava, de diversas formas, histórias em quadrinhos nos Estados Unidos, retirando, inclusive, qualquer menção à homossexualidade, transgenereidade e questões LGBTQIA+ das publicações. Faltam muitas narrativas queer nas mídias de massa: filmes, novelas, histórias em quadrinhos e similares, sobretudo ao considerar os frequentes casos de intolerância no meio nerd.


Para João de Merda (SELF(azul)), nem sempre todas as histórias são contadas. O quadrinista, que acompanhou a 2ª POC CON em Casa, afirma sentir falta de tramas de pessoas LGBTQIA+ da vida real, como casais de mulheres lésbicas, negras e idosas, por exemplo. "Quando eu ia ver isso, sei lá, em uma TV aberta ou em uma editora grande de quadrinhos? São coisas que a gente não vê. A gente gosta de ver, mas querem que a gente veja só histórias bonitas, bem-feitas e perfeitinhas”.


Não à toa um dos grandes momentos da edição 2021 foi o lançamento do livro Quadrinhos Queer, organizado por Ellie Irineu, Gabriela Borges e Guilherme Smee e publicado pela editora Skript. A obra, lançada já na reta final do evento, reúne artigos, contos, entrevistas e quadrinhos feitos por pessoas LGBTQIA+. Como uma forma de celebração ao quadrinho queer brasileiro, o livro é feito para todos os amantes de quadrinhos, independente de gênero, orientação sexual, identidade ou outras características.



Além disso, para promover a leitura de obras feitas por artistas e LGBTQIA+, foi criada, dentro do site da POC CON, uma gibiteca digital com dezenas de quadrinhos gratuitos para leitura online. O acervo conta com grandes obras brasileiras como “Maré Alta” e “Gibi de Menininha”, com a visualização da classificação indicativa das obras e filtros de pesquisa para facilitar a navegação. O catálogo estará disponível por tempo indeterminado.


A POC CON já pode ser considerada evento obrigatório para quem gosta de quadrinho nacional. Para 2022, fica o desejo e a esperança da feira voltar a ser no formato presencial. Até lá, o público segue na expectativa de retomar os abraços calorosos, as trocas de experiências e, sobretudo, as mais diversas formas de afeto e expressão.



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