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  • Foto do escritorInara Chagas

Resenha Escuta, Formosa Márcia

Atualizado: 6 de nov. de 2022


Quadrinho premiado fala sobre relações familiares conturbadas e a violência na periferia do Rio de Janeiro


Peça gráfica com Ilustração do quadrinho “Escuta, Formosa Márcia”. A capa do quadrinho é uma mulher de pele roxa e cabelos longos e ondulados. Ela segura uma bolsa e, atrás dela, é possível visualizar que ela está em uma favela.
Foto: Divulgação Editora Veneta

Nota das Cartunadas: este texto, diferente da maioria do nosso site, não possui transcrição em áudio por problemas técnicos que estamos enfrentando. Assim que isso tudo passar, iremos incluir a versão em áudio, tudo bem?

Título: Escuta, Formosa Márcia

Autores: Marcelo Quintanilha

Editora: Veneta

Número de páginas: 128

Ano de publicação: 2021


Há quem diga que dinheiro não traz felicidade. Tecnicamente ele não traz mesmo, mas evita muitas dores de cabeça. Dores, essas, que dona Márcia, protagonista de Escuta, Formosa Márcia, lida quase diariamente.

Talvez seja por isso que há uma facilidade tão grande de se identificar com a personagem de Marcello Quintanilha. O quadrinista massivamente premiado no Brasil e exterior (inclusive com esta HQ) não poupou esforços para criar uma personagem tipicamente brasileira. Todo mundo já conheceu alguma Márcia: Mulher negra, gorda, enfermeira, da quebrada, com um humor quase que imbatível e com um relacionamento conturbado com sua filha, Jaqueline, garota de programa.


Aliás, o centro desta HQ se dá em torno de relações familiares. A história, ambientada no Rio de Janeiro, começa a ganhar vida quando Márcia vê sua filha se envolvendo com um rapaz do tráfico. A enfermeira não aprova a situação, mas o diálogo saudável entre mãe e filha não acontece, tanto é que Jaqueline mal chama Márcia de “mãe”, mas sim de “colega”, “Márcia” e similares. Além disso, Jaqueline também não tem um bom relacionamento com seu padrasto, Aluísio — tanto é que o acusa de lhe transmitir Gonorreia, Infecção Sexualmente Transmissível (IST).


Aqui, não há espaço para discursos meritocráticos como “mulher batalhadora”, “ralou pra comprar uma bolsa” ou “trabalhar muito para sair do morro”. Márcia se veste bem, e tem orgulho disso. Em vários quadros é possível notar como o autor evidencia os belos sapatos da personagem e seu gosto pela maquiagem, e não é por acaso. Falando por mim, filha de uma mulher negra e criada por uma família negra, a primeira coisa que pensei ao ler, foi “Você já é preto, não pode andar mal vestido”. Só quem vive, sabe, afinal.

Márcia gosta de morar na periferia, tanto é que, ao ter a oportunidade de se mudar, a protagonista escolhe seguir em sua casa. A verdade é que é natural torcer por Márcia. Ao mesmo tempo que quem lê o quadrinho deseja que os problemas da enfermeira sumam, torcer para que a história se prolongue mais um pouco é inevitável.


Para mim, Escuta, Formosa Márcia brilha com os diálogos. É fácil comprar a naturalidade das falas dos personagens, pois tudo ali se assemelha com o cotidiano. Para se ter uma pequena noção: a HQ começa com Márcia se estressando tentando cancelar uma linha de telefone. Quem aí já não se quebrou a cabeça com qualquer operadora? Eu já.


Como crítica negativa, deixo aqui as letras. Apesar dos excelentes diálogos e da naturalidade dos personagens, a tipografia da HQ não é totalmente legível. Para pessoas com baixa visão ou com outras especificidades de compreensão, a leitura pode se tornar um pouco mais difícil. Além disso, deixo esta resenha como aviso para mulheres negras que não necessariamente querem ler histórias difíceis. A verdade é que a vida para muitas de nós não é fácil, então tudo bem se refugiar em histórias quentinhas.


Ler Escuta, Formosa Márcia em um ônibus lotado a caminho do trabalho foi a cereja do bolo, uma vez que as viagens de ônibus da personagem são evidenciadas em vários momentos da HQ. Por fim, encerro esta resenha dizendo que não falei nem ⅓ do que tenho para dizer sobre este quadrinho. Escuta, Formosa Márcia faz história ainda no presente.


Nota: 5/5


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