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  • Foto do escritorInara Chagas

Shamisen. Canções do Mundo Flutuante

Atualizado: 12 de set. de 2022


Quadrinho nacional que valoriza a cultura nipônica e a inclusão



Na imagem está a capa da Hq. No centro da página há uma mulher  oriental usando um traje, vestido branco com um cinturão amarelo e quimono vermelho. Em suas mãos  ela segura o o instrumento musical Shamisen. Ao fundo, flores em tons de amarelo e rosa e um sol na lateral direita.
Foto: Divulgação Editora Pipoca & Nanquim

Se preferir, ouça este conteúdo:


Título: Shamisen: Canções do Mundo Flutuante

Autores: Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa

Número de páginas: 164

Ano de publicação: 2021


Ambientada no Japão, Shamisen: Canções do Mundo Flutuante conta a história de Haru, musicista solitária e pessoa com deficiência visual com ausência total de visão (cega). Para sobreviver, Haru toca o instrumento musical Shamisen, conhecido por sua característica melodia e aprendizado difícil. Detalhe para a inspiração da personagem que veio da Haru Kobayashi, goze (mulher musicista que também possuía deficiência visual) que também tocava o Shamisen.


Com o objetivo de apresentar ao público brasileiro diferentes perspectivas da cultura nipônica (como o caso da música folclórica japonesa, Min’yõ), a obra tem uma leitura leve, prazerosa e reflexiva. Para isso, além de oferecer poucos diálogos, é sugerido já no início do mangá que Shamisen: Canções do Mundo Flutuante seja lido ao som da playlist feita especialmente para este fim, com canções tocadas no instrumento que dá nome à obra.


O quadrinho não possui capítulos ou divisões delimitadas, ficando a cargo das belas ilustrações de página-dupla fazerem este papel. Nota-se que a história segue o padrão da vida: nascimento, crescimento e morte, com ênfase nos conhecimentos e ensinamentos propostos por meio de diálogos e caminhadas da protagonista e seu instrumento musical, cuja melodia é capaz de cativar seres humanos, animais e, até mesmo, deuses.


De forma geral, o mangá cumpre o que se propõe. Com uma narrativa extremamente visual e contemplativa, é comum que você passe alguns bons minutos observando os detalhes de cada página, não apenas dando atenção para as ilustrações coloridas, como também para a impressão e acabamento do quadrinho, feito em papel pólen de alta gramatura.


Com poucos diálogos e linguagem definitivamente não-coloquial, a leitura é lenta e nos faz ter pouca pressa para virar a página, priorizando a imersão que a obra proporciona. Ao fim da leitura, não se surpreenda caso a sensação de “quero mais” surja. Por mais que conheçamos a trajetória de Haru, as mudanças e evolução da personagem, a sensação de que estamos apenas a observando em sua jornada, sem conhecer totalmente seus sentimentos ou conflitos, é presente. Destaco, aqui, o que mais me chamou atenção na obra: a forma com que os autores ilustraram Haru usando os seus sentidos para compreender o mundo. Tudo de forma sutil, mas extremamente presente.


É possível notar a dedicação e zelo no trabalho feito pela dupla de autores nas últimas páginas da HQ, onde se encontram informações valiosas sobre a história de Haru Kobayashi e do instrumento Shamisen, referências e artigos para leitura, glossário de músicas, poemas e informações sobre a música folclórica japonesa. Uma excelente forma de promover o diálogo intercultural e, ao mesmo tempo, demonstrar respeito com elementos tão importantes para a cultura japonesa. Em tempos de desinformação e intolerância, valorizar o conhecimento e a diversidade também é uma forma de revolução.


Ao olhar a ficha dos autores, não é de se surpreender que a obra entregue o que entrega. Guilherme Petreca foi finalista do prêmio Jabuti na categoria Ilustração por Carnaval de Meus Demônios e é conhecido no meio nerd por ilustrar Ogiva, quadrinho ambientado em um cenário pós-apocalíptico onde monstros se alimentam de humanos. Já Tiago Minamisawa, tem suas raízes no cinema, cujas obras Sangro e Guida somam muitas premiações internacionais (para não mencionar aqui outras produções também já premiadas do autor).


Leitura recomendada para quem tem interesse em expandir horizontes e conhecer a cultura nipônica partindo do ponto de vista não-normativo. Independentemente da idade, a prioridade aqui é investir tempo para a contemplação necessária e para a experiência imersiva. Shamisen: Canções do Mundo Flutuante veio para mostrar mais a nós, brasileiros amantes de quadrinhos, que ainda pouco sabemos (ou buscamos saber) sobre o outro lado do mundo. Um exemplo de obra que discute, de forma sutil e potente, o diálogo intercultural, a inclusão e o amor pela arte.


Nota: 5/5


Veja mais detalhes da HQ "Shamisen":

Imagem: Divulgação Editora Pipoca & Nanquim

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